quinta-feira, 18 de agosto de 2011

TEXTO X DISCURSO


          Hoje existem inúmeras explicações para definição de texto, mas é necessário salientar que em lingüística a noção de texto é muito ampla e ainda há abertura para outras possibilidades de definições mais precisas.
          Segundo o Aurélio: “Texto é o conjunto de palavras, frases escritas”. Pode-se considerar que esta definição é ultrapassada, pois os conceitos de texto vão muito além do que somente palavras escritas. Para Eco “os textos são o lugar em que o sentido se (produz e produz prática significante) (ECO, 1981: 641). Lozano citando Lotman herdeiro de Backtin explica que de maneira mais aberta é costume referir-se ao texto como “qualquer comunicação registrada em um determinado sistema signico”. Percebe-se que estas noções de texto já são um pouco mais abrangentes, sem falar que existem uma infinidade de teóricos que definem texto de formas diferentes, mas nos deteremos apenas com essas definições, pois segundo Lozano “mesmo que a partir dessas considerações possamos vagamente nos acercar do objeto texto, sua generalidade e falta de precisão na delimitação - ao utilizar definições analíticas ad hoc – nos impedem de distinguir um texto de um não texto” (LOZANO 2002). A partir dessas considerações entende-se que os estudos relacionados ao texto precisam ser aprofundados e examinados minuciosamente.
          Procurando compreender um pouco mais imaginemos as seguintes situações: Quando vamos ao um hospitale nos deparamos com placas com a palavra “silêncio” e/ou quando estamos em uma rua movimentada e encontramos um pedaço de papel no chão com uma figura de uma caveira com um x vermelho sobre ela. Na primeira situação temos um texto porque a palavra “silêncio” está inserida em um espaço em que é possível acontecer interação entre as pessoas, ou seja, está dentro de um contexto significativo. Na segunda situação a figura da caveira na circunstância em que está introduzida não é um texto. Porém, se ela estiver em um ambiente de risco ou em uma caixa de veneno, por exemplo, nessa localização a figura constitui um texto, porque está inserida num contexto significativo em que alguém quer dizer algo para outra pessoa (neste caso a figura indica “perigo”). Portanto, pode-se assim dizer, que texto pode ter uma dimensão flexível: uma palavra, uma figura, uma frase, um conjunto de enunciados, mas ele essencialmente necessita de um contexto significativo para existir.
         O discurso possibilita compreender o funcionamento do texto. Para Orlandi “A discursividade é incomensurável, uma vez que a dispersão a caracteriza...” (ORLANDI, 2001), ou seja, o discurso é desmedido, imenso havendo um deslocamento, uma separação em diferentes sentidos. A oralidade é característica forte do discurso e segundo o Aurélio é: “peça oratória proferida em público ou escrita como se tivesse de o ser”, logo o discurso pode ser uma exposição sobre certo assunto, ou o modo de apresentação das falas dos personagens em determinado texto. Segundo Lozano “o discurso pode se identificar com o enunciado...” (LOZANO, 2002), um exemplo eminente é o discurso proferido pelo pastor e/ou padre que provém do texto bíblia. Imediatamente o discurso se concretiza no texto.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Prazeres ilícitos

“Mantém-te distante da inveja, pois assim como o fogo queima a lenha, a inveja consome as boas ações.” (Textos Islâmicos)

 Há certas ocasiões em que o silêncio é sempre a melhor resposta, especialmente quando se trata de coisas tão mesquinhas e banais, a melhor atitude é mesmo a indiferença. Porém, há dias em que uma das maiores e admiráveis virtudes do ser humano chega ao limite e transborda, a paciência. Apesar de considerar a paciência uma virtude preciosa não discorrerei sobre ela neste momento, me aterei a falar de outro sentimento, que também se atribui ao ser humano, a inveja. Segundo o Dicionário Aurélio, 1: Sentimento de desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem; 2: Desejo violento de possuir o bem alheio. A inveja é um sentimento desprezível, vergonhoso, pequeno, vil, mas que possui um poder imensurável de destruir. Destrói relações, destrói a harmonia no trabalho, destrói a paz de espírito, consome a alma, se transforma em ódio, corrói o espírito, empobrece a alma e torna o ser humano infeliz e solitário. Asseguro que a maldade da inveja não tem limites e muitas pessoas utilizam-se da mediocridade da inveja em detrimento de outras, todavia, percebo que a inveja é um sentimento advindo de pessoas fracassadas que não tiveram competência e capacidade para realizar o que o outro conseguiu, uma vez que o que elas realmente desejam é ocupar o lugar da "vítima". O invejoso não tem felicidade e nem a encontrará, a inveja arrancará todas as possibilidades de prosperidade, o invejoso nunca encontrará paz interior, não terá harmonia nas relações nem a confiança das pessoas ao seu redor. Definitivamente, são dignos de lástima!  

Patrícia Morais

REFLEXÃO:

“O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como contraveneno: a caridade e a humildade.”
(Allan Kardec)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mulheres de Atenas

 Vale a pena ler Chico Buarque,
 Olhares sobre a personagem Matilde do romance Leite Derramado de Chico Buarque.


Mulheres de Atenas: olhares sobre Matilde 
           Em Leite Derramado, Chico Buarque de Hollanda traz as memórias de um homem muito velho que está no leito de um hospital. Ele relata os fatos de sua tradicional família, caracterizada pela decadência social e econômica, e marcada pelo descontrole emocional de seus membros. O personagem relembra passagens de sua vida, num misto de contradições e delírios, levando o leitor a viajar pela História do Brasil dos últimos séculos.
           A estrutura do texto é marcada pela falta da ordem cronológica em que são narrados os fatos. Fator, que em determinadas passagens do texto, torna-o incoerente e inconsistente, perturbando o leitor e, consequentemente deixando-o confuso sem saber quando se está falando sobre fatos reais e/ou imaginários. Em alguns momentos seu discurso instável e completamente desarticulado deixa dúvidas sobre a veracidade dos acontecimentos narrados.
           A obsessão e o apego vividos pelo ancião revelam a resistência e a dificuldade que o personagem enfrenta em encarar a realidade, principalmente nas questões relacionadas à sua esposa Matilde. Apesar dos relatos sobre Matilde aparecerem quase sempre de forma indireta e serem mostrados através do olhar possessivo e ciumento do marido, a personagem conquista a admiração dos leitores, e pode ser considerada como personagem central da narrativa, pois a história toda gira em torno dela, é a obsessão do narrador, ele relata outros assuntos e sempre acaba voltando para ela .
           No decorrer do romance o narrador vai compondo a personagem através de atitudes, expressões e atributos físicos. A vitalidade e a espontaneidade são características marcantes em Matilde, de forma que a cada passo vai moldando e fixando seu comportamento e sua personalidade. São muitas as expressões felizes que Eulálio descreve sobre Matilde, isso é evidenciado no trecho que segue:
                                                                              “[...] Na verdade nunca a pude observar direito, porque a menina não parava quieta, falava, rodava e se perdia entre as amigas, balançando os negros cabelos cacheados. Saía da igreja como quem saísse do cinema Pathé [...] Porque assim suspensa e de cabelos presos, mais intensamente ela era ela em seu balanço guardado, seu tumulto interior, seus gestos e risos por dentro, para sempre [...]” (BUARQUE, 2009, p.20 e 21)
     É igualmente notável a admiração e o desejo que ele sentia por Matilde:
                                                                                     “[...] Mas nunca a pude analisar como naquele dia, quando a surpreendi na pausa que antecedia o ofertório [...] eu não sabia mais me libertar de Matilde, procurava adivinhar seus movimentos mais íntimos e seus pensamentos tão distantes. Eu percebia de longe seu rubor, seu olhar em pingue-pongue, seu riso contido enquanto cantava [...] Vi como ela se aproximava não em linha reta, mas em parafuso, a se entreter com meio mundo a sua volta, como se estivesse numa fila de sorveteria [...]” (BUARQUE, 2009, p.30 e 31)
      Essas declarações deixam visível a admiração que ele sentia por ela desde a primeira vez que a viu, e que poderia ser mesmo verdadeiro o seu amor por Matilde. A presença desse amor é reforçada com o teor poético que é notado durante a narrativa: “A respiração de Matilde chamava as ondas, que lhe respondiam com seu espraiar. Passar uma noite sem Matilde me parecia tão improvável como cessarem todas as ondas sem mais nem menos”. (BUARQUE, 2009, p.161). Eulálio chega ao ponto de reconhecer que Matilde era superior a ele:Não sei se existe um destino, se alguém o fia, enrola e corta. Nos dedos de alguma fiandeira, provavelmente a linha de vida de Matilde seria de fibra melhor que a minha, e mais extensa”. (BUARQUE, 2009). Em um momento singular na narrativa, Eulálio chega a ser humilde ao falar que Matilde poderia viver mais feliz ao lado de um homem de “alma delicada” que se contentasse em ser o que ele não era.
           No entanto, todo esse amor é completamente sufocado pelo ciúme doentio e a vontade obcecada de controle que ele exerce sobre sua esposa, retratando a forma egoísta e autoritária como tratava sua mulher, sempre desaprovando e reprimindo suas atitudes, sua maneira de vestir, sua forma despojada de falar, enfim, a todo instante ele podava e tentava controlar o comportamento da esposa. Das inúmeras opressões e frustrações sofridas pelo marido, uma das mais marcantes e absurdas foi quando Matilde se preparou durante todo o dia para ir a um evento com o marido e ao vê-la deslumbrante com seu vestido laranja imediatamente a proibiu de ir:
                                                                            “[...] mas logo tomou o bonde para a cidade e cortou os cabelo a la garçonne.Chegado o dia, vestiu-se como achou que era de bom-tom, com um vestido de cetim cor de laranja e um turbante de feltro mais alaranjado ainda [..] mas ela estava tão ansiosa que se aprontou antes de mim, ficou na porta me esperando em pé. Parecia empinada na ponta dos pés, com os sapatos de salto, e estava muito corada ou com ruge demais. E quando vi sua mãe naquele estado, falei, você não vai. Por quê, ela perguntou com voz fina e não lhe dei satisfação, peguei meu chapéu e saí [...]” (BUARQUE,2009,p.11 e 12)
 A obsessão, o egoísmo e o ciúme que Eulálio possuía eram tão grandes que ele nem se deu conta de tamanha mesquinhez e da mágoa que causou na mulher ao tentar controlar até a forma como sua esposa se vestia, a vontade dele era que ela se vestisse com os longos vestidos, que cobriam seus braços e batiam nas canelas, para que ela não vestisse os decotados e cor de laranja, que eram os seus preferidos. Aos poucos Matilde foi abrindo mão de seus gostos, de suas alegrias, de sua felicidade, de sua vida. Foi se fechando, se escondendo do mundo, fugindo de si mesma e da vida, já não podia mais ser ela mesma, vivia em função das vontades do marido.
          Semelhante a Dom Casmurro, de Machado de Assis, a questão da traição será uma dúvida sem resposta. Não se sabe se os relatos relacionados à suposta traição de Matilde eram mesmo real ou se eram fruto do ciúme e dos delírios do velho. Nem mesmo o próprio narrador terá essa certeza, permanecerá o mistério nas entrelinhas do romance.
           A cena a qual pode se atribuir ao título do livro é de uma força extraordinária, ao mesmo tempo em que choca, emociona, e nos leva a refletir sobre os mistérios que contornam esse ato:
“[...] Cheguei sem fôlego à porta entreaberta do banheiro, e o que vi foi Matilde debruçada na pia, como se vomitasse [...] Corri para a abraçar, envergonhado do meu mau juízo, mas ela aprumou o vestido bruscamente e se esquivou de mim, deixando a torneira aberta. E vi respingos de leite nas bordas da pia, o ar cheirava a leite, vazava leite do vestido de sua mãe [..]”  (BUARQUE,2009,p.135 e 136)
       Nesta cena é possível apresentar variadas formas de interpretações: é válida a opção em que Eulálio insinua uma suposta traição da esposa com o francês Dubosc e por se sentir suja e indigna Matilde se nega amamentar a filha, ou ainda, o leite derramado na pia, aquele chorar baixinho de Matilde pode representar a dor de uma paixão mal vivida, a mágoa de uma mulher não compreendida, o apelo desesperado e a tristeza desmedida de uma mãe que “teria” que renunciar a filha, ainda que por amor. Ou ainda pode-se ter outra interpretação, mas esta seria em conseqüência da versão da sua fuga para a França com o engenheiro francês, onde pode nos mostrar um lado egoísta de Matilde que, apesar de ter seios fartos e abundantes em leite, derrama-o e não pensa na filha, esta seria a mais cruel das possibilidades de interpretação.
           Outro fato cercado de mistérios é o desaparecimento de Matilde. O narrador aponta diversas versões para o seu sumiço. São prováveis as seguintes situações: morte de parto; morte em desastre de automóvel na antiga Rio–Petrópolis; morte por afogamento; fuga para a França com o engenheiro francês e morte por tuberculose num sanatório. Na trajetória do romance é claramente notado que a maioria dessas versões não passam de meras desculpas sem consistência que são contadas à filha para explicar o sumiço da mãe.
            Nota-se que o narrador nunca encara a realidade, mais uma vez prefere ficar no fictício, sempre fazendo de conta, inventando mentiras para justificar a decadência de sua vida, demonstrando o grande descontrole emocional existente na família. A hipótese da fuga de Matilde com o Francês para a França é provavelmente sem fundamento, e fica visível que é fruto do ciúme mórbido do narrador. Perante tantas versões falsas sobre sua morte, é impossível definir concretamente a causa de seu desaparecimento.
           Com a criação de uma personagem cativante e autêntica como Matilde, com atitudes e sentimentos tão verdadeiros e diante de tantas dúvidas que cerceiam a narrativa, é praticamente impossível desvendar os mistérios e os verdadeiros acontecimentos dessa envolvente história, e é justamente essa dúvida que seduz e fascina o leitor do início ao fim do livro, confirmando Leite Derramado como um grande romance de alcance universal.
Referências:
BUARQUE, Chico. Leite Derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
COUTINHO, Isabel. Ípsilon – Portugal - “mas Chico é nome de escritor ruim”. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acessado em: 08 de janeiro. 2011.
REIS, Margarida Gil dos. O regresso às origens. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acessado em: 12 janeiro 2011.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Mensagem inicial

Olá amigos!

Esse blog foi criado para transmitir um pouco da minha paixão pelas Letras e pela minha grande admiração e encanto pelo universo das palavras. E  porque não também dizer que ele surgiu de muitas reflexões acerca dos acontecimentos da vida e das injustiças que cerceiam os seres humanos. Aqui será um lugar para manisfestar e compartilhar momentos inefáveis que a leitura e as produções escritas nos proporcionam, sugerindo momentos de criticidade e reflexão, bem como será  lugar da exteriorização de minhas inquietações e angústias. Espero que os fragmentos de mim alcance resultados positivos na construção de uma sociedade mais justa e humanitária.

Patrícia Rosendo